Visita ao património edificado e classificado na cidade de Seia
Visita ao património edificado e classificado na cidade de Seia
No âmbito do módulo 5, “Património Local e Regional”, da disciplina de Turismo – Informação e Animação Turística, do Curso Profissional de Técnico de Turismo, os alunos da turma 57 visitaram no passado dia 28 de maio o património edificado e classificado na cidade de Seia. Concretamente:
Capela de São Pedro, em Seia, exemplo de arquitetura religiosa (capela), Monumento Nacional, desde 1924
O primitivo templo de São Pedro de Seia terá sido edificado nos finais do século XII ou inícios do século XIII, e o espaço fronteiro à capela tornou-se posteriormente um dos polos do comércio local, uma vez que a partir da centúria de Trezentos passou a realizar-se nesse espaço um mercado semanal.
No século XVI esta capela estava agregada ao Solar dos Botelhos, pelo que em 1542 o templo foi reconstruído por ordem de Aires Botelho, como atesta uma inscrição no portal principal.
A pequena igreja quinhentista desenvolve-se em planimetria quadrangular, estando a estrutura reforçada pela disposição de quatro contrafortes. Na fachada foi mantido o modelo de gosto românico no portal principal, embora seja evidente a sua remodelação, que lhe acrescentou uma arquivolta. Sobre a empena do frontispício foi colocada uma sineira.
Do lado esquerdo do portal principal foi gravado “ESTA CAPELA FEZ JOAO LOEZELLO”, desconhecendo-se se esta referência é uma alusão ao primitivo instituidor da capela. No espaço fronteiro foi inscrito “ESTA CAPELA MANDOU FAZER AIRES BOTELHO DE NOVO PER A. BOTELHO SEU FILHO PERA ELE E SEUS DESCENDENTES NO ANO DE 1542”.
O interior é um espaço único, sem capela-mor, coberto por abóbada estrelada, cujos fechos são decorados com a Cruz de Cristo, motivos zoomórficos e antropomórficos. Na parede do lado do Evangelho foram abertos dois arcossólios geminados, em arco abatido, que possivelmente albergavam túmulos. O altar-mor, elevado por um degrau que o diferencia do restante espaço, possui frontão revestido com azulejos de aresta hispano-mouriscos.
No século XIX o templo foi desafeto ao culto religioso, sendo posteriormente utilizado como um armazém. Somente em 1948 a Capela de São Pedro foi reaberta para cerimónias religiosas, passando a ser usada como capela mortuária a partir da década de 80 do século XX.
Catarina Oliveira
GIF/IPPAR/ 8 de junho de 2006
Casa das Obras, em Seia, exemplo de arquitetura civil (Casa), exemplo de monumento de interesse público desde 2013
O edifício onde atualmente se encontra a Câmara Municipal de Seia foi, originalmente, o solar da família Figueiredo Abranches, tendo sido mandado construir em 1773 por Teresa Bernarda de Figueiredo Abranches e seu marido Francisco José Pinto de Mendonça, que era Desembargador. Herdeira do Morgado das Obras, por parte de seu pai, a ela se ficou a dever a designação de Casa das Obras, pela qual o imóvel é também conhecido.
A casa ficou concluída em 1778, mas nesse ano era já habitada por Luís Bernardo Pinto de Mendonça e Figueiredo e Ana Leonor Nogueira d’Abreu e Abranches, herdeiros dos primeiros proprietários.
O brasão que se conserva no tímpano do frontão que remata o corpo central da fachada, um escudo esquartelado com os símbolos heráldicos dos Pintos e Arrais de Mendonça, deverá ter sido aí colocado posteriormente, quando este ramo da família se tornou proprietário da Casa, certamente no início do século XIX.
De planta retangular, este imóvel apresenta fachada principal de desenvolvimento longitudinal, seccionada por pilastras que definem cinco corpos. O central é rematado por um frontão triangular com a pedra de armas já referida e os dois das extremidades por um outro frontão com óculo no tímpano. Os dois pisos são separados por um friso reto, abrindo-se no térreo um conjunto de janelas de linhas retas e, no andar nobre, igual número de janelas de sacada de remate curvo. O eixo central destaca-se pela porta de entrada e pelo remate triangular da janela do piso superior, terminando esta linha vertical no brasão de armas e no frontão.
O interior foi objeto de algumas alterações, que acompanharam a história mais recente do edifício. Em 1911 foi vendido em hasta pública a um particular e em 1919 o Município adquiriu o imóvel. Aqui ficou instalado o Tribunal da Comarca de Seia até 1986, quando foi transferido para sede própria, tendo sido introduzidas, ainda nos anos 60, uma série de alterações na divisão interna do espaço.
(Rosário Carvalho)
Solar de Botelhos e cerca, em Seia, exemplo de arquitetura civil (Solar), Monumento de Interesse Público desde 2012
Edificado no último quartel do século XV, o Solar dos Botelhos “é um dos muito raros exemplares de casas urbanas tardo-medievais” do país (in Parecer do Conselho Consultivo do IPPAR), estando a sua estrutura e implantação urbanística originais praticamente intactas.
A casa organiza-se com dois corpos, uma ala residencial e uma torre, não ameada, juntando a estrutura de gosto gótico ao programa decorativo manuelino. Sabe-se que no século XVI o solar pertenceu a André Botelho de Alarcão, capitão-mor de Seia.
A casa, de planta retangular, adapta-se ao declive do terreno, dispondo-se do lado direito o corpo maior, de secção retangular, cuja fachada possui um registo com uma porta e três janelas. À esquerda foi edificado o segundo corpo, a torre quadrangular, com dois registos, rasgados por janelas de moldura biselada.
Na fachada posterior foram abertas duas janelas de sacada, uma delas mainelada, e duas de peito, uma de moldura reta, outra de mainel. Entre estas duas foi colocada a pedra de armas dos Botelhos, e uma janela em arco trilobado.
Catarina Oliveira – IPPAR.
Casa da cerca de Santa Rita e capela anexa, Museu do Brinquedo de Seia, exemplo de arquitetura civil (Conjunto), imóvel de interesse público desde 1967
A Casa de Santa Rita, edificada no século XVII, é composta por dois volumes distintos, correspondentes à área de habitação e à capela, que se encontram unificados pelo muro que delimita a propriedade. A casa mantém a estrutura original de feições maneiristas, sem programa decorativo. O ritmo das fachadas é marcado pela escadaria exterior, na principal, e pelas janelas, destacando-se a janela de canto, elemento muito utilizado na arquitetura civil beirã da época. No século XVIII foi realizada uma campanha de obras durante a qual foram edificados o muro que envolve o conjunto e a capela da casa; a partir de então, o muro passa a constituir a fachada principal da casa, onde foram rasgados dois portais de estrutura barroca. Vendida à Câmara Municipal de Seia em finais do século XX, a Casa de Santa Rita alberga atualmente o Museu do Brinquedo.
A fachada principal do conjunto, formada pelo muro que rodeia a casa, é delimitada por cunhais de pilastra e possui à esquerda portal de acesso ao pátio interior, com moldura recortada e pedra de fecho decorada por folhagens. À direita, foi rasgada a porta de acesso à capela, em arco abatido, ladeada por pilastras toscanas e encimada por óculo quadrilobado.
A casa, de planta retangular simples, possui fachada principal dividida em dois registos. o primeiro possui dois vãos, delimitados por pilastras toscanas, que ladeiam a escadaria de acesso ao registo superior. Este, com patamar com guarda de ferro, possui porta de moldura em arco abatido encimado por florão, e três janelas de peito de moldura semelhante. Na fachada lateral direita foram abertas, no primeiro registo, portas de moldura retangular, intercaladas por bancos de cantaria, e no registo superior janelas de moldura retangular e uma janela de ângulo, assente em coluna toscana. A fachada lateral esquerda possui um terraço, ao qual se acede a partir de vão aberto no registo superior da fachada principal da casa.
Interiormente a Casa de Santa Rita está muito alterada, uma vez que o espaço foi adaptado para as funções museológicas que desempenha. Mantêm-se as janelas conversadeiras do andar nobre.
A capela da casa, de planta longitudinal simples, tem acesso pela fachada principal, através do portal rasgado no muro. De moldura recortada, em arco abatido, este possui pedra de fecho decorada por folhagens e é ladeado por pilastras toscanas, flanqueadas na zona inferior por volutas. Sobre o portal existe óculo quadrilobado, decorado nos ângulos por flores-de-lis, encimado por frontão contracurvado. Sobre o muro foi colocado um nicho ladeado por volutas e encimado por cruz. Na fachada lateral esquerda foram abertos portal de moldura retangular e janela em capialço, que ilumina o altar-mor. O acesso ao coro-alto é feito através de escada exterior com guarda metálica, adossada à fachada lateral da capela, onde foi também colocada sineira. O interior da capela é de espaço único, coberto por falsa abóbada de berço de madeira em caixotões, assente em cornija, e com coro-alto. Num pequeno vão, aberto no topo do espaço da capela, foi colocado retábulo barroco de talha dourada e policromada, ladeado por pilastras de cantaria, encimadas por frontão interrompido.
Catarina Oliveira – IPPAR.